...e apercebi-me que não olhava para um relógio há tempo demais. desabituei-me. a ver o tempo passar, o ponteiro dos segundos naquele tic-tic angustiante mas ao mesmo tempo apaziguador. a esperar que o ponteirinho passe o "12" para que o dos minutos avance também, lento mas determinado. a fazer o tempo passar. e o ponteiro das horas, mais pequeno (esse confesso que nunca fiquei tempo suficiente para o ver passar, mudar essa fracção com que nos controlamos e ao que fazemos - a hora, o tempo...).
já não olhava para um relógio há que tempos!
mas olhar com atenção, como não se faz aos digitais, que nos impõem o número em toda a parte, no computador ou no telemóvel, brutos e insensíveis ao tic-tic que se quer constante mas suave no seu movimento. para nos fazer crer que o tempo é um inevitável fluir, um ritmo que quase embala na sua absurda (mas tão concreta) cadência de controlo.
é como se os ponteiros fossem eufemismos para o tempo que passa.