e para quê? para repetir incessantemente o que já foi escrito em linhas intermináveis onde milhares de letras se compõem com mais ou menos espaço entre elas, combinações imensas em que tudo o que se diz já foi dito mais ou menos vezes, com mais ou menos objectivo?
para quê? para poder ficar com a certeza de que o que escrevo não leva nem tão simplesmente irá levar a lado nenhum, mantendo-se nesta galeria de tantos quadros escritos, traduzindo desta maneira estática aquilo que só pode e deve ser solto em palavras, palavras que fluam acompanhadas naturalmente pelos gestos que lhes são indissociados?
para quê? para me poder tranquilizar, sabendo que há destino para estas letras, mesmo que o destino seja tão ensombrado pela incerteza que eu não o possa nem remotamente controlar (ainda que saiba que esse é precisamente o propósito do destino)?
não. nada disso.
escrevo porque quero mesmo, porque me apetece, porque me sabe bem toda a conjunção surrealista destas palavras silenciosas, porque me sinto lindamente neste exactíssimo momento em que os meus dedos deslizam (ainda que nem sempre com aquela decisão), porque apesar de toda esta conversa do que se diz ou se deixa de dizer estas letras entrançam-se naturalmente e só isso é suficiente para me satisfazer...
...for the time being.