domingo, outubro 30, 2005

o céu está cor-de-rosa

e eu ainda sinto a tua falta, em fatias de pensamento de sabores diversos e nos meus olhos que se cansam de tanto [te] procurar por aí. levo para todo o lado o peso do desequilíbrio, não sei despegar-me do que sinto. não sei fingir: só disfarçar, camuflar, maquilhar cuidadosamente essas incertezas tão tangenciais, tão minhas. tão instaladas, já. e percebo tantas coisas que levaram tanto tempo a perceber, tantos mistérios intricados que sempre assumi como mais-valias de pessoas pequenas e que afinal são tão humanos como tu e eu, tão evidentes como o tempo e as mudanças e tão poderosos como o cor-de-rosa do céu que me fecha os olhos cansados em contemplação do que não se pode ver.

sexta-feira, outubro 28, 2005

é assim

estou especada em frente a um ecrã de um vazio tremendo. [é branco] vejo-o como via o quadro negro da minha escola, as contas de dividir que esperavam que eu as resolvesse - sem saberem, coitadas, que eu esperava que se resolvessem a elas próprias [a magia do giz]. isto era na quarta classe. já não estou na quarta classe, já não sou uma criança por definição, e tenho pena [tanta pena].

sábado, outubro 15, 2005

maria

só bastava um olhar prolongado para saber exactamente como era, como seria, como fora. naquele intervalo de tempo em que deixava o seu olhar discreto perder-se num qualquer detalhe. um sorriso, um gesto, um centímetro de pele. um catalisador de emoções, de experiências químicas e de outras magias sublimes e demasiado ignoradas pelas pessoas em geral, para seu próprio descontentamento. sentia-se feliz, genuína e selvaticamente feliz, sempre que encontrava um outro olhar como o seu. um olhar que lhe dissesse que tinha razão.