domingo, janeiro 16, 2005

da preguiça e outros pormenores

se há coisa de que toda a gente precisa é da preguiça, preguiça boa, daquela que prende uma pessoa ao sofá e não a deixa sair por nada, que a inunda de sossego e boa disposição como se de um sol de junho se tratasse. para os efeitos este sol de dezembro não é exactamente comparável mas adiantemo-nos que eu tenho de começar a perder este hábito de me demorar demasiado em coisas que não interessam. ou então não, até porque as coisas que não interessam são sempre as mais interessantes. avancemos.

os dias de preguiça são sempre produtivos, não duvidem os mais cépticos: a preguiça é amiga da ponderação, da calma, da placidez...eu arrisco até da paz. e nestas alturas em que o mundo está tão confuso, tão nervoso, tão tristonho um bocadinho de paz (e de preguiça) é sempre bem-vindo. é assim como aquela cara sorridente que aparece sem avisar no meio da multidão, como o ananás bem doce no fim do almoço, como a música que se ouve pela primeira vez e de que se gosta logo. é preguiça, é boa e mais não há que se diga.

e depois por meio da preguiça há aquele filme que se vê, mas não se vê. porque não se está a prestar atenção, não se está a devorar o argumento nem a admirar a cinematografia nem a filosofar sobre a ideia que dá origem a esse filme. mas vê-se. e guardam-se imagens na cabeça como se fossem fotografias ou, melhor ainda, momentos que até poderiam ter sido realidade (se não estivessem retratados num ecrã, obviamente). como o ar terrivelmente intelectual-sexy da personagem principal, o cigarro pendendo dos dedos, o decote já demodeé, o corte garçonne, os brincos excessivamente compridos e o bâton vermelho-vivo...mas o que a torna diferente, o que a torna especial, o que faz com que o homem não a consiga tirar da cabeça por mais que tente não são os enfeites, não. é o olhar malandro. o sorriso decidido e alegre. o tom desafiador com que pinta as histórias que conta, as ideias que tem, o que lhe apetece dizer. quase que acredito que ela está mesmo ali, com ele ao lado, a galeria de arte tão incrivelmente familiar...apesar de nunca ter estado em nenhuma parecida. acho que deve ser aquilo a que chamam a "magia do cinema". capaz.

e depois há as palminhas, que coisa deliciosa, as palminhas! ela bate palmas e conquista-nos a todos naquela minúscula janelinha de tempo em que fixa as continhas brilhantes nos nossos sorrisos idiotas (como aliás se espera que sejam).

e depois há aqueles momentos que vão da descontracção absoluta (gosto sempre tanto de ficar no silêncio, sabe tão bem, parece veludo nos ouvidos) às gargalhadas incontroláveis a que não conseguimos fugir. porque aqui toda a gente já sabe que nós as duas em dia-sim somos um terramoto, não paramos quietas, prendemos a razão e todas as suas amigas em gaiolinhas de metal e deixamo-nos levar pela loucura das cores e de tudo quanto for desprovido de qual tipo de lógica e compostura, somos tontas e gostamos.

e depois há tanta coisa.