sábado, novembro 12, 2005

pergunto-me:

se sabem mesmo do que falam, se têm a certeza de que vão viver assim ad eternum, se não pensam nem por um microsegundo na necessidade que têm de uma mudança - de uma evolução. há nos discursos cheios de certezas uma insegurança mal mascarada que me deixa sempre desconfiada das verdadeiras intenções do interlocutor: uma ideia tem todo o direito a ser defendida com a maior das convicções, mas deixe-se sempre um espaço aberto, uma margem de manobra que convide a contestações. não se tiranizem as ideias. não se ridicularizem as pobres, presas em palavras vãs e repetitivas, nas bocas de quem nunca se questiona.

sábado, novembro 05, 2005

a esta hora...


...desenterro ruínas de castelos de areia, perdidos há tempo demais, soterrados por montanhas de instantâneos que aparecem e desaparecem com a efemeridade das borboletas e que acabam por não ter importância nenhuma, acumulando-se como colinas de pó num chão por varrer. instantâneos cinzentos de cinzeiros por despejar, que acinzentam tudo o que permanece, todos os coloridos de passados vários, recordações que se vivem, não como fotografias carcomidas de que já ninguém se lembra, mas como propulsoras de futuros diferentes destes que se programam sem saber como é que o sol nasce amanhã. varro os cinzentos com a euforia de quem se insurge, de quem insiste e vê resultados, vê presentes, vê futuros nos passados distantes, nos reflexos de sensações que não são mais do que ensinamentos - e absorvo estas lições, reaprendo-as e procuro sem descansar uma solução para os dias em que deslizo nestas inércias.

sexta-feira, novembro 04, 2005

tempo

penso se tenho tempo para ter tudo o que quero, para ser tudo o que sonho. se tenho tempo sequer para querer, quanto mais para sonhar. quero ter tempo. quero tanto ter tempo, tanto tempo, não peço mais nada. não quero mais nada. o tempo é o meu tudo derradeiro.

quero tempo para ver, para tocar, para descobrir. para acompanhar e para ser o que já sou mas todos os dias mais e melhor e maior e sempre assim, até ao fim. quero tempo, tanto tempo, todo o tempo. quero um tempo infinito, um tempo congelado que demora o tempo que eu quiser.

não sei quanto tempo tenho. nem sabes tu nem nenhum de nós. não sei se ainda vou ter tempo amanhã ou depois ou daqui a dois meses ou cinquenta anos. e se há em mim uma vontade sombria e humana de saber, o que eu mais quero é congelar este tempo por tempo indefinido.