domingo, março 13, 2005

exercício psicanalítico em noite de calma total

é uma disfunção crónica, uma eterna e definitiva incapacidade de ter uma só perspectiva das coisas, das pessoas, das ideias. não sei escolher, não sei separar, não sei concretizar. e este abstracto que domina tudo o que desde sempre fui e sou, que me constrói em antagonismos e me faz compreender perfeitamente o significado da relatividade, não deixa de me surpreender a cada dia que passa.

porque eu não acredito em caminhos únicos, em perspectivas inalteráveis, nada é tão estático que não se possa alterar. e às vezes basta um detalhe para clarear o escuro, amargar o doce, colorir o cinzento and so on...

e é a incerteza da inalteração que faz com que os medos e os desejos se confundam, fazendo com que cada segundo de cada minuto de cada hora seja um inédito com repercussões imprevisíveis.

a curiosidade torna-se natural, uma extensão da procura permanente da surpresa, que já não é de admirar que todos os dias haja uma partícula do meu mundo que se altere, que se desmonte em mil outras que transformam uma certeza numa novidade. faz parte da contradição, do frágil equilíbrio entre o pensar e o sentir, a simbiose imperfeita que é a realidade do meu imaginário.

e talvez seja por isso que não me admirei nada de ter chegado a casa a pensar em ti.