segunda-feira, dezembro 20, 2004

"as memórias procriam como se fossem pessoas vivas"

é possível.

não diria exactamente procriam...acho que elas se infiltram em todos os recantos de nós e quando estão bem instaladas, atenuam-se, interligam-se, potenciam-se.

é curioso como quase todas as tragédias passadas perdem o desencanto, são atenuadas, esbatidas, algumas até ganham reflexos de lições de vida. as carrancas viram sorrisos, as palavras azedas tomam um doce rico e sereno. e a pior de todas as desgraças pode até vir a ser recordada de uma maneira positiva. depende das memórias.

os sorrisos multiplicam-se, e as recordações de verões amenos e primaveras solarengas unem-se às de outonos risonhos e alvos invernos, para todos juntos explodirem em sucessões de imagens que passam nas nossas cabeças sequiosas de um conforto do passado. que talvez nos possa ajudar a enfrentar o presente, não falando demasiado do futuro por agora, já que esse nada contribui para elas. as memórias.

as memórias são, para mim, como bengalas em terrenos pedregosos ou fachos de luz em escuras noites de vigília.

procriam-se.

as memórias.