domingo, novembro 14, 2004

tanto tempo

tanto tempo a tentar ser igual, a tentar ser diferente, estar de acordo com toda a gente, não querer falar com ninguém...a ver o mar, a ver o sol, a ver a noite e o seu barulho, o seu silêncio...a tentar olhar nos olhos de alguém e conseguir ler os seus pensamentos, porque é que eu não consigo, que raiva surda que me dá...

tanto tempo a compor pensamentos elegantes que agradem ou não, é indiferente porque ninguém lhes presta atenção ou será que prestam e eu não reparo? ou será que me desdenham, me invejam, me admiram, me praguejam e à minha indolência morna de quem vive num outono sem fim.

tanto tempo a gastar palavras doces e azedas, em nuances de vermelho azulado com toques de violeta (ou seria amarelo torrado?), em lânguidos navios de coral que deslizavam e sempre deslizarão nesses rios de papel por onde flutuas de vez em quando em sórdidas melancolias disfarçadas...sim, eu sei bem.

tanto tempo e afinal tão pouco, contado em seculares ampulhetas cor de mel, cheias dos sonhos e das penas de tantas iguais a mim e que nos vidros dos relógios que me vêem de longe se reflectem a sorrir.

é tanto tempo...mas não é tempo perdido, que o tempo não se perde.

engana-se.