quarta-feira, novembro 24, 2004

o regresso das maíusculas

Abri os olhos. Não via. Por trás de mim (ou seria à esquerda?) passava uma ténue corrente de ar, temperada por uma humidade que me fazia sentir algures num fim de verão perdido. Na minha cabeça reminisceram tardes de Agostos longínquos em que os refrescos de chá com folhas de hortelã controlavam o calor que se instalava em torno da casa, dentro de nós.

Levantei-me e de imediato fui tolhida por tonturas incontroláveis, pioradas susbtancialmente pela falta de visão, e que me pareciam estranhamente artificiais. Foi aí que percebi que provavelmente seriam efeitos secundários da(s) substância(s) que me haviam mergulhado no torpor do qual esforçava por me libertar. Habituado o cérebro à mudança de posição, dei dois passos na direcção contrária à da corrente de ar, levada por qualquer suposição instintiva de que encontraria uma saída ou algo que se assemelhasse. A esta hora já não sabia o que pensar. O meu pensamento tinha sido despido de toda a lógica, sobrando apenas a emoção e o instinto.

Nem sequer sabia que horas seriam, que dia da semana, do mês, do ano. Estava perdida. Não sabia onde, nem porquê, nem com quem. A suspeita de que a corrente de ar poderia não ser uma simples corrente de ar, e sim a respiração de uma pessoa, ou até de um animal maior que um cão, tomava conta de mim. Esfreguei os olhos repetidamente como se com isso conseguisse trazer alguma luz àquela...sala? Armazém? Não conseguia enquadrar o espaço onde estava em nenhuma construção arquitectónica familiar. Olhei...sim, eu via. Não havia era nada para ver.

Azul?

tic, toc, tic, toc...