sábado, julho 02, 2005

silêncio e calma


ando à deriva como se o que me sustentasse não fosse mais do que nada. estou sozinha. absolutamente sozinha. não ouço um barulho que não venha de onde eu o possa controlar. não há condicionante que me agarre a coisa nenhuma nem responsabilidade que me ate a poste algum; como um cão vadio, sem casa, sem dono. não se passa rigorosamente nada. e o vazio transporta-me inevitavelmente para sítios onde já estive, pessoas com quem já me dei, a quem já me dei. visões de um passado não tão distante que me perturba mais do que eu poderia sequer remotamente supor. é um jogo de especulações misturadas com lembranças ainda vivas demais, sangue quente que não teve tempo de assentar, de secar, de desaparecer. parece impossível. começa agora. é preciso descontracção, uma cabeça descansada, usada mas fervilhante, traída mas atenta. reinvento-me pegando nas pontas deixadas por quem não soube prestar a devida atenção. perdoo-me por olhar ao espelho e me lembrar do que julgava já esquecido.