segunda-feira, março 29, 2010

IV.

quero a tua mão na minha. quero sentir o enleio dos teus dedos e quero que eles me percorram e me façam querê-los ainda mais. quero que a tua mão se perca na minha pele à procura da consolação, e que não haja nada que a faça desviar-se do seu encargo, da sua missão. quero ver a tua mão desorientada em mim, sedenta e cega, e quero esmorecer sob esse desvario antagónico e injustificável. quero enrolar-me, completa, nessa tua mão hesitante e instável e fazer com que me enleves e me arrebates, com que me faças querer-te todo num intervalo temporal que não caiba numa escala qualquer e que se repita mesmo sem querer. quero ter a tua mão desvairada na minha boca a descoser-me, a despir-me, a deixar-me violenta de tanto que te sinto e do tão pouco que consigo controlar este querer profano e tentador. quero que a tua mão me enleie e me domine e me arraste num delírio de insensatez que seja só nosso, secreto e imoral e recôndito e perfeito como o são todos os sonhos. quero ter a tua mão transviada em cada milímetro de mim, a expropriar-me da minha natureza numa cadência infernal que me faça gritar até que não reste mais nenhum som dentro de mim e o amanhecer me leve num embalo até ao dia seguinte. 

e quero tocar-te de todas as maneiras e rasgar-te o coração vazio.