quinta-feira, março 30, 2006

a crónica [das pessoas] sem graça

não se aguentam os sorrisinhos cretinos das pessoas auto-intituladas "felizes". para mim é tudo treta, nem mais nem menos. ninguém minimamente inteligente se pode considerar minimamente feliz. esses dissimulados são tristes como todos nós, só que enquanto nós gastamos o nosso tempo e o nosso (pouco) dinheiro em coisas que só interessam ao diabo (livros, conversas, almoços, pares de sapatos que nunca vão sair da caixa...) "eles" vão gastando tudo e mais alguma coisa numa complicada operação de estratégia para disfarçar a tristeza de vida que não compreendem. e gera-se toda uma indústria de felicidade engarrafada. com prazo de validade, ah pois é. nada que a corporación dermoestética não possa vir a resolver.

o que eles não resolvem de todo é a falta de graça das pessoas. e eu gosto dessa graça ácida que ou se tem, ou não. e se não se tem, mais vale investir nuns bons livros do que num bom rabo - porque sem graça nunca passa disso. gosto de pessoas-limão, sarcásticas e divertidas, que vejam a graça das coisas que não têm graça nenhuma. como os funerais, o benfica ou a tvi. pessoas pouco sérias mas que saibam concentrar-se no universalmente interessante e deixar de parte as cervejas tango e outros embarrilanços afins. pessoas engraçadas, na verdadeira e total acepção do adjectivo. todas as outras podem fazer um favor ao mundo e comprar um bilhete de ida sem volta para o rock in rio lisboa, que a gerência agradece e faz a sua vénia.

[claro que isto é tudo mentira, eu também gosto das tais pessoas felizes e sem graça. sem elas, iam restar-me muito poucas coisas para gozar quando me dá a neura.]